(Atualizado em 23/6/2020)
Tenho comercializado meus trabalhos artísticos desde o final de 2014. As primeiras vendas aconteceram sem que eu chegasse a expor o trabalho à venda, me levando a acender uma luzinha pré-empreendedora paras as redes sociais.
Tudo se deu muito rápido quando passei a dar um tempo do jornalismo, de forma que aprendi fazendo, e isso vale tanto para a pintura, como para a venda. Desde então, o aprendizado tem sido uma constante, e a paixão pelo que faço aumenta em escala exponencial, tanto para o fazer artístico em si como para o contato próximo que tenho mantido com quem adquire minhas artes. Voltei a gostar de gente, pasmem!
Nesse período relativamente curto de tempo aprendi muito; mas sofri um bocado também, como é de se imaginar. Não sabia dar preço (ainda estou aprendendo isso), já que a arte possui características intangíveis que nem todos estão prontos para perceber/pagar.
Foi aí que comecei a falar mais sobre como funciona o meu processo criativo para os interessados em minhas pinturas. Conversar mais com as pessoas que param para olhar meu trabalho tem levado a um despertar de interesse, curiosidade e, seja ali na conversa, ou meses depois, à vontade de ter uma pintura minha. Artistas, se atentem a isso: as pessoas gostam de nos conhecer, nos sentir, nos entender. Somos diferentes, rs. Redoma de vidro só se for para o papel 100% algodão!
Assistir palestras e ler sobre empreendedorismo criativo foi uma espécie de norte para mim no começo. Nesse sentido indico/apresento/cito a Rafa Cappai, da Espaçonave. A missão dessa jornalista (somos farinha do mesmo saco) é ajudar artistas a viverem da sua arte. Dentre as contribuições dela está o projeto Decola-lab, que abre turma anualmente e ensina um monte de gente a voar com as próprias asas. Ainda não fiz o curso, mas a acompanho rotineiramente e suas dicas têm sido de grande ajuda – Daí meu título, em referência ao seu livro Criativo e Empreendedor Sim Senhor!
Como fui começando a vislumbrar estabilidade financeira como artista freelancer?
Observando as pessoas que compram meus trabalhos – o quê elas pensam, o que anseiam, porque querem ter –, respeitando os gostos das pessoas sem anular os meus; conhecendo/seguindo gente que faz muita arte linda aqui em Goiânia e pelo Brasil afora (um viva à internet); me autoconhecendo e aceitando minhas limitações. Ainda não sei lidar com o tal bloqueio criativo muito bem. Quando ele vem, ocorrem atrasos de encomendas mais difíceis.
Nesse tempo que me propus a vender minhas pinturas, tenho percebido que muitas pessoas não entendem bem o que é um produto artístico, mas têm vontade de ter, de saber e de compreender desse processo artístico. Prova disso é que recebo muitas encomendas personalizadas, que me ajudam a estar sempre saindo da zona de conforto e a descobrir mais sobre meu estilo.
Sim, tem aquelas encomendas que eu peno mais para fazer, por falta de identidade, ou porque são mais complexas que a minha capacidade quando as recebo, mas tenho aprendido a lidar com isso sem muito drama, afinal, trabalho é trabalho. Sempre se aprende algo com encomendas. O importante é começar a fazer, que o resto flui.
A inspiração existe, porém tem que encontrar-se trabalhando. – Pablo Picasso
Breve relato
Meu jeito inquieto de ser faz com que eu agarre sempre as boas oportunidades que me aparecem, e nesse caso foi a Feira do Cerrado, de supetão, o meu primeiro contato com clientes que não eram amigos ou parentes. Foi aí que o desafio começou de verdade. Eu vivia um duelo interno, pois não queria fazer só peças de decoração, afinal, deixar o jornalismo na geladeira para entrar noutro ciclo de trabalho exaustivo não fazia sentido, mas também travava constantemente com a cobrança de que precisava vender, porque, afinal, precisava pagar contas como todo adulto que se preze.
Desde o começo me propus a oferecer valores que considero justos, o que é extremamente relativo, controverso e polêmico. Trato como justo um valor que me sustente dignamente, pague os materiais e que, ao mesmo tempo, leve às pessoas a oportunidade de adquirir minhas pinturas. Os prints foram uma mão na roda nesse quesito, pois quando vendia somente os originais levei muito prejuízo.
Vou tentar explicar melhor, sem muita delonga meu modus operandi ui, que termo chique: Eu falo abertamente com as pessoas que buscam meu trabalho. Artista não tem que ter vergonha de justificar valores, sobretudo quando depende de serviços terceirizados, meu caso com a gráfica e a empresa que faz molduras.
Tá cheio de gente querendo arte, querendo sentir-se em contato com ambientes artísticos dentro de casa ou no trabalho, querendo presentear com algo que tenha significado. E também está cheio de artista fazendo coisas lindas por aí.
Uso as palavras que considero certas para justificar o valor. Não digo o preço de cada coisa especificamente, até porque não lembro tudo de cabeça, mas digo o óbvio, com educação e respeito.
Acreditem: tem gente que não sabe que tinta custa dinheiro e que dinheiro!, que pinceis têm de ser trocados de tempos e tempos e que os melhores são bem caros, que devemos receber com base no tempo/complexidade do trabalho e que peças com muita originalidade custam mais porque carregam um tipo de valor imaterial. Há quem nunca comprou uma moldura na vida!
Para simplificar a compreensão e ganhar tempo, desenvolvi uma espécie de tabela de acordo com o tamanho e complexidade do que terei de fazer, além do prazo. Assim, tenho conseguido manter um valor que considero equilibrado para mim e para quem busca meu trabalho. Essa tabela foi seguindo minha percepção do quanto meu trabalho/técnica tem evoluído, sem deixar de considerar valores viáveis – o famoso pezinho no chão sabe?
Bora apimentar um pouco esse texto? Bora!
Numa palestra recente que fui, sobre o Mercado da Arte, pude perceber que estou acertando intuitivamente a forma como apresentar meu trabalho em muitos aspectos – tenho perfis em redes sociais desde o começo, um nicho quase formatado, trabalho com valores pré-fixados por tamanho e tipo de moldura; mas vi que devia observar alguns pontos, como, por exemplo, vincular meu nome dificinho à De Aquarela. Daí coloquei “De Aquarela, por Ketllyn Fernandes”. Ficou assim uns 3 anos e agora saí do armário oficialmente: sou a Ketllyn Fernandes!
Em meio ao bate-papo com outros artistas, percebi quase um receio em se vender aquilo que se produz. Sai de lá com uma pulguinha atrás da orelha e alguns questionamentos que só o tempo e estudos poderão tentar sanar.
Sério que, em pleno século 21, ainda tem gente que pensa que o artista vai se diminuir ao colocar preço em sua obra? É como se arte de verdade precisasse estar nos museus e nas galerias, e só! Pensar assim é ignorar que todos os grandes artistas tiveram que vender seu trabalho em algum momento, e pior, que afastar o trabalho artístico das pessoas – no sentido de elitizar sobremaneira – é quase como que considerar a maioria das pessoas incapazes de compreender/sentir essa arte. Somos humanos. Sentimos e nos expressamos, sendo assim, todos estão aptos a sentirem a arte, cada um à sua maneira.
Bem, seria isso! Falem aí nos comentários suas opiniões, dúvidas, sugestões! Este tema é quase polêmico e bem abrangente, então espero ajudar quem compra e que vende e entender um pouco mais sobre o fazer artístico!