Aquarela é movimento e a vida?

Produzo uma média de 3 artes por semana (um dos principais motivos da ausência aqui – sempre o tempo, ou a falta dele). Tento fazer com que todos os meus desenhos sejam especiais, para assim justificar a guinada que dei na vida para me dedicar a eles. Sendo assim, minhas pinturas, até as mais singelas e “comuns”, têm sua história, venham de criações livres ou de encomendas. Isso por meus clientes, de certa forma, buscarem meu trabalho para materializar seus sentimentos também – e tem sido gratificante trabalhar assim!

Mas, entre uma encomenda e outra, sinto a necessidade de me expressar e me entregar a processos criativos sem as amarras da aprovação. Fazer algo meio sem rumo certo, o que encomendas não permitem 100%, já que vêm, ao menos, com uma ideia do cliente.

Esse escape me ajuda a “recarregar” o cartucho de criatividade e se não me dou esse tempo, caio no temido bloqueio criativo, que às vezes também é necessário, mas que eu fujo que nem vampiro da luz do dia – não, não sou fã de Crepúsculo e cia, mas não queria usar a expressão que cita aquele dito-cujo aqui.  

Voltando: Foi assim que fiz a ilustração “Se Cultive”. O esboço que a originou não merece retrato aqui – de tão macabro que ficou (amigos classificaram de gótico para amenizar, pois são legais comigo).  Isso porque quando a ideia veio, eu tinha em mãos só uma caneta nanquim e, sem lápis e borracha, sentada num banco de praça, as proporções fugiram do meu controle ao tentar consertá-la.  [ DICA 1: Veio a ideia? Pare e coloque no papel! Se for o caso aprimore depois]

Dias depois decidi redesenhar com mais calma – enquanto esperava horas por uma consulta. Novamente, fora do meu cantinho de criar, deixei a imaginação fluir, sem me prender muito à ideia inicial do esboço e assim ver no quê que aquele ser de cabeça não convencional iria dar. Decidido na ilustração só estava que seria uma cabeça de coração e flores (tô meio que presa nessa série, desde que tatuei isso em mim).

Sou muito encantada com a maneira com que os processos criativos se dão. Quero permanecer nesse estado de encantamento até me aposentar (se é que artista aposenta…)

Curioso é que, mesmo fugindo um pouco do primeiro desenho, principalmente na parte abaixo da cabeça de coração – que virou um desastre que, por sua vez, veio a originar as raízes para disfarçar -, o desenho manteve o sentido de raízes, que nem era o necessariamente “planejado”. Depois de pronto eu olhava para o corpo e faltava algo. Saí da consulta e fui tomar um café. Voltei a olhar, olhar e experimentei um buraco.  [ DICA 2: deu vontade de incluir ou retirar algum elemento? Teste! Na pior das hipóteses você terá de redesenhar ou apagar ]

Mas não era para representar o vazio, já que ela está florescendo – não fazia sentido! Como se um órgão interno no lugar da cabeça e rosto fizesse…

No aconchego da minha mesa bagunçada consegui finalizar

Então, num daqueles “flashes” de “eureca”, fiz a raiz e lá estava meu desenho jogando na minha cara sua mensagem. Para mim, e a interpretação é livre e pessoal, essa aquarela fala de algo que tenho resgatado desde que voltei a desenhar, mas que vez ou outra acabo por esquecer: minha essência verdadeira, aquela que se manifestava desde a infância. Desde que me entendo por gente, plantas, flores, mato e terra, além de desenho e sapatos, é claro, fazem parte do que eu gosto. Aparentemente, se trata de algo interno e enraizado e que, pelo visto, é para a vida toda.

Partindo para o fim, mas ainda não, eu queria usar só nanquim preto e aquarela vermelha, maaas, novamente, o desenho estava ali exigindo algo mais –  criações artísticas falam, basta ter paciência. Fui dormir e no outro dia de manhã, lá estava eu com lápis de cor aquareláveis e não aquareláveis em punho. A meu ver, trazer um pouco de cor de pele deu ao desenho humanidade, calor humano, vida pulsante, sangue quente, enfim, isso aí tudo junto…

A água ao redor? Isso, fiz de supetão direto na caneta (logo, sem chances de apagar), tipo quando a aquarela chegou chegando e eu me vi deixando as redações de jornal por oficinas de desenho e pintura. Água é movimento e a vida o que é?

No mais, me deixe impressões sobre esse texto ou sua experiência com processos de criação nos comentários, vou adorar saber! Ah, sugestões de pautas também são sempre bem-vindas =)