Idoia Lasagabaster, espanhola referência em aquarela (com dicas)

(Atualizado em 28/6/2020)

“Para mí la acuarela es importante porque me da la libertad pintórica, como expresar mi interior, lo que está en mi cabeza, lo que imagino, mejor que otras técnicas, que son más tranquilas. La acuarela es inmediata, es rápida y también me gusta porque la acuarela es imprevisible. Porque tú no controla el 100% de la pintura, tal vez un 70, 80%. Por lo demás es la acuarela, el agua y el papel con que pinta. Entonces esa imprevisibilidad, esa emoción, no tiene en otra técnica para mí, porque estoy pintando aquí y allá del otro lado lo que acabo de pintar se está haciendo sola, secándose, creando sus aspectos. Si me gusta, dejo, si no, puedo intervenir. Otra cosa que me gusta es que es muy sintética. No hay necesidad de demasiados detalles, no hay demasiado figurativismo. En ella no todo está explicado. Allí, al exterior de alguna parte de la acuarela hay misterio, misterio en alguna parte de la acuarela. Eso me interesa también, pues el espectador me revela”.

Essa é a resposta ipsis litteris dada pela aquarelista espanhola Idoia Lasagabaster quando a perguntei, numa entrevista que começou como bate papo antes do início do Workshop, do porquê de ter escolhido, dentre tantas técnicas de pintura, as nuances da aquarela.

Ela esteve no Brasil em setembro e outubro de 2017 ministrando workshops no Rio de Janeiro e em Brasília, organizados pela Escola de Artes Talento 28 (DF), de Luciana Casales. No RJ, a iniciativa conta com a parceria da Linha D’água Aquarelas, de Nelson Polzim, para locação do espaço. Como estou em Goiânia, consegui ir a um deles na capital federal entre os dias 29 e 30 se setembro.  O bate e volta mais proveitoso que já tive.

Foi MAGNÍFICO. Eu, que nos últimos três anos tenho atuado predominantemente como autodidata nessa técnica – frequentando uma oficina e outra com foco em ilustração, vendo tutoriais no YouTube, ou simplesmente, experimentando e descobrindo  (ou seria “apanhando”?)  –, fiquei em estado de encantamento. Nunca tinha presenciado esse tipo de apresentação, nem tamanha magia ao se aquarelar. Esse encanto é próprio da artista em questão, chamada de maestra pelos seus anfitriões brasileiros. Vale ressaltar o quanto Idoia consegue ser didática, algo um pouco difícil ao se ensinar técnica de pintura, em especial aquarela.

Eu estava sofrendo e insistindo em não esperar a aquarela fazer sua parte. Ela ma mandou ir tomar um café. Fui!

Idoia é pura emoção, sentimento que flui em pinceladas aguadas, secas, geralmente de pincéis grandes que parecem ter saído direto dos materiais de pedreiros para seu estojo. Mas, claro, ela também tem seus pincéis ostentação, de marcas renomadas, guardadinhos. Numa eterna sinfonia de desconstruir para reconstruir [ o que arrancava de nós, pobres mortais, suspiros e expressões de leve desespero quando destruía, com água ou tinta aquarela pura, obras belas. Em seguida criava algo ainda mais espetacular.  Sim, ela usa branco (China) em suas aquarelas. Quebradora de paradigmas porque é lacradora.

Também, como esperar menos da “hija de Newton” [ piada interna em seus ws. Ela sempre fala isso quando usa a gravidade para escorrer em suas pinturas ou quando lhe perguntam como foi que ela descobriu isso ou aquilo, como, por exemplo, usar um cartão de crédito velho pra criar textura (foto abaixo), selar o papel com água e cola branca antes de pintar e por aí vai].

Esse resultado ela alcançou jogando pigmento em pó sobre superfície molhada e depois passando seu cartão de crédito velho pra lá e pra cá “Hija de Newton”

Com isso aprendi que: Aquarela é desapego para construção e desconstrução, mas, primeiramente, CORAGEM e INSISTÊNCIA. ]

Um pouco de história

Jornalista que sou, adoro ouvir os pormenores da vida das pessoas, pois, por experiência própria, sei que por trás de decisões como a de viver DE AQUARELA, existe um impulso maior. No caso de Idoia Lasagabaster foi a perda, há pouco mais de 20 anos, do seu filho do meio, 40 dias após nascer. Não, ela não era pintora. Era professora de Linguagem e literatura, em uma universidade, sendo especialista em literatura e literatura latino-americana da Era de Ouro, com doutorado. Ela me contou durante nossa entrevista não programada que, após o incidente, andava muito triste, então seu esposo à época  lhe deu um estojo de aquarela (qualquer semelhança é mera coincidência). Ela, assim como eu, fazia seus desenhos e pinturas na infância, de forma que a Arte estava ali em seu interior desde sempre, esperando a hora certa de se mostrar.

Idoia aquarela há mais de duas décadas, desde essa perda, mas só a partir de 2011 é que passou a se dedicar exclusivamente a workshops, conferências e cursos de aquarela em âmbito nacional e internacional. É premiada com prêmios nacionais e locais e autora de dois livros sobre aquarela: A síntese em aquarela I e II (que infelizmente não estão disponíveis, por ora, em editoras, de forma que para tê-los é preciso encomendar diretamente com ela). Também escreveu um livro de ficção, “Identidades”, que pode ser comprado pela Amazon =)

Ela me adiantou que tem mais três projetos muito bem encaminhados, hein!? São uma novela sobre o mundo da aquarela (está quase pronto) <3 ; um de relatos breves e curtos sobre o mundo intelectual: pintura, filosofia e literatura <3 ; e outro  com a finalidade de ensinar como pintar aquarela de memória, impulsionando a criatividade. Este último conterá, segundo ela, exercícios e tudo mais <3<3<3

Suas preferências

Idoia Lasagabaster gosta de pintar (quase) tudo. “Exceto retratos, porque remetem à cópia e eu não me interesso pelo realismo”. Lacrou. Sem mais.

Pois bem, suas obras passeiam predominantemente por paisagens urbanas – “mi encanta” –, industrial e natureza morta. “Não uso a observação ao vivo, gravo na memória e vou para o Studio pintar”, destacou, emendando que suas aquarelas são totalmente emocionais, chegando a ser, ao mesmo tempo, impressionista e expressionista.

Curiosidade: pássaros em paisagem marítima são clichês, me disse “na lata”.

Nesta, salvo engano, o brilho das pedras foi feito com pó de mármore

 

Polemicazinha do meio artístico

Idoia levantou a questão de que percebe grandes aquarelistas na Rússia, China e Inglaterra, mas que, por outro lado, vê nos artistas espanhóis, franceses, dos Países Baixos, e o pouco que já viu dos da América Latina, mais autenticidade. Isso porque, os primeiros, trabalham mais com realismo, enquanto que os segundos têm diferentes tipos de trabalhos, desde “mucho mucho realista” ao abstrato, figurativo, não figurativo.  Em suas palavras: “Las acuarelas de Rusia son muy similares, todos los artistas pintan muy parecido. En China también muy similar, Inglaterra también. Pero en Francia, España son muy diferentes. Depósito del artista”.

Resuminho “inho” do que anotei

– Mais importante que a qualidade da tinta e do pincel, é a do papel. Invista em papel BOM. (Aí nossos bolsinhos, eu sei, mas quem quer se profissionalizar precisa investir)

– Sua paleta de tinta precisa, necessita das seguintes cores (além das outras todas que você já tiver e gostar, é claro): Branco China, Cor Neutra – cor escuras que boas marcas têm que não mudam as cores, só escurecem na hora de misturar – como eu vivi sem nem ouvir falar disso, não sei), Rosa Permanente, Azul cobalto, Verde de Cobalto, ocre siena, um ocre terroso, sépia. Marca boa. Invista.

– Para paisagem marítima (ou outra, desde que queira um efeito fluído para o céu e etc), molhe o papel dos dois lados. Neste caso é encharcar mesmo. Espere um pouco e comece. Não trabalhe tanto em cima da pintura, deixe o serviço para a aquarela.  Na finalização, para incluir alguns detalhes, use a técnica úmido/seco sobre seco.

– Ainda em paisagem marítima, para fazer sombra, use a mesma cor do céu misturada a tons marrom.

– Onda do mar e nuvens: Joga o azul e com o guardanapo vai retirando o excesso. Repete até perceber o aspecto.

– Areia molhada: pinceladas secas para dar movimento e também dá para fazer usando tons ocre e sépia, deixar úmido e ralar (como queijo curado), aquarela em barra nesses tons por cima do úmido.

– os barquinhos ela faz direto na espátula, traçando o formato, sem muitos detalhes. Mas isso é com treino, então não vale se frustrar nas primeiras vezes (faça o que eu falo, não o que eu faço).

– Composições ficam mais harmônicas quando se separa em cima tons quentes e embaixo tons frios ou vice e versa.

– Efeito atmosfera: usar a cor branco china na última camada, de úmido a molhado, sem repetir a pincelada em cima dos mesmos lugares muitas vezes.

– Efeito de reflexo: 1º pinceladas no tom do objeto refletido para ↓ (vertical) –

2º ainda úmido, pinceladas para os lados, para puxar e assim dar movimento.

– Uso da cola branca: 50% de cola e 50% de água. Deixe a textura pastosa e passe uniformemente em todo o papel. Deixe secar completamente e descubra os “paranauês” disso fazendo, pq eu não tenho foto/vídeo, pois ainda não fiz e tenho tudo só dentro da cachola mesmo (quando der publicarei aqui ou em minhas redes sociais). PS.: Quanto mais se passa camadas de cola, mais o resultado se afastará de aquarela. Cuidado, se essa não for a intenção.

 

Bem, por hoje é só pessoal. É praticamente tudo que anotei no meu “bloquinho” (aí que saudade de jornalistar que eu estava).

E se tiverem oportunidade de conhecer o curso dessa aquarelista, invistam.

Abaixo deixo os dados das escolas que sempre estão trazendo aquarelistas phodásticos para nos inspirar e ensinar (não é publicidade, só dica mesmo, já que quase sempre não temos acesso a esses lugares com facilidade).

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*Talento 28 – Escola de Arte e Galeria (Brasília)

www.facebook.com/talento28escoladearte/

www.instagram.com/talento28_/

SEPS 714/914 ED. TALENTO, SALA 28 – TÉRREO

70390-145 Brasília

(61) 98422-8644

www.talento28.com

*Linha D’água Aquarelas

www.facebook.com/profile.php?id=100017559494969